Os corredores dos hospitais Walfredo Gurgel, em Natal, e Deoclécio
Marques de Lucena, em Parnamirim, atestam a gravidade em que se
transformou a questão de acidentes de trânsito envolvendo motociclistas.
O quadro é alarmante e, segundo estimativa de profissionais da saúde
que trabalham na recepção dessas unidades, cerca de 80% dos atendimentos
realizados no setor de ortopedia são de pessoas envolvidas nesse tipo
de ocorrência. Seja na capital ou em municípios do interior do Rio
Grande do Norte, o número de acidentes é crescente e diretamente
proporcional ao aumento da frota de motos, à imprudência e à violência
no trânsito.
“Nos fins de semana, esse índice chega a 90% devido o consumo de
álcool”, informou o médico ortopedista e traumatologista Ramon Teixeira,
que atende na urgência do Pronto Socorro Clóvis Sarinho/HWG. Na opinião
dele, é “fundamental normatizar” a venda e o uso das motos: “Não dá
para vender para qualquer um; na mão de pessoas sem treinamento a moto
se torna uma arma. É um meio de transporte inseguro e precisa haver
restrições para conter o crescimento geométrico dos acidentes”,
acredita.
Teixeira também aponta para a necessidade de se promover melhorias no
sistema de transporte público, um dos motivos que incentivam a
aquisição de motos. “Muito se fala no desenvolvimento da indústria
automobilística, mas se analisarmos sob a ótica econômica questiono o
tamanho do impacto e os custos que um acidente gera para toda a
sociedade”, disse o médico, ressaltando que a problemática interfere não
só na demanda dos hospitais como no sistema previdenciário e na própria
estrutura familiar.
Para ilustrar sua preocupação, Ramon Teixeira cita como exemplo casos
comumente vistos em cidades do interior: “Imagine uma pessoa que até
ontem andava de carroça, passa a pilotar uma moto do dia para a noite
devido às facilidades de financiamento. Não há preparo nenhum, e em
muitos lugares o uso do capacete nem é obrigatório. É uma realidade bem
complicada e a tendência não é animadora”, lamentou.
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