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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Cemitérios e milagreiros revelam memória do Seridó em estudo da UFRN

 
Cemitério São Vicente em Caicó, também faz parte da pesquisa

“Este é o meu parque de diversões”, diz Lourival Andrade Júnior enquanto circula com familiaridade entre os túmulos do Cemitério São Vicente de Paula, em Caicó. Professor de História do Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES) – unidade da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Lourival encontra com facilidade as sepulturas do local, sobre as quais é capaz de comentar desde os aspectos artísticos do jazigo até as histórias familiares das pessoas enterradas ali. “Este espaço é um documento vivo. 

Aqui eu me sinto bem. Não digo religiosamente, mas do ponto de vista da pesquisa. Me sinto melhor aqui do que em um arquivo, com aquele cheiro que me dá até rinite”.

O docente lidera no CERES o estudo Cemitérios do Seridó, que pretende reconhecer a memória das cidades da região pelas características de seus cemitérios. “Fazemos uma análise social, uma leitura. Procuramos a sensibilidade do lugar”, explica.

Lourival acredita que as sepulturas eternizam as pessoas, preservam memórias que uma pesquisa não encontraria em fontes consideradas convencionais pelos historiadores, como os processos criminais ou os atestados de óbito. 

O professor já esteve em todos os cemitérios da região, composta por 23 municípios, e guarda um banco de dados com mais de 6 mil fotos de tumbas. O que mais lhe chama atenção, é que, em todos os locais visitados, é possível perceber claramente as diferenças sociais.

“O Seridó demarca muito bem o espaço social de poder dentro do cemitério. Quem manda e quem não manda, tudo está aqui. As famílias mais poderosas têm túmulos mais suntuosos, as menos abastadas têm covas rasas, simples, mais baratas”, analisa. “As pessoas dizem que o bom da morte é que ela iguala todos. 

Como assim? Este aqui é igual àquele lá?”, provoca, apontando para uma sepulcro azul, alto e imponente, em formato de torre gótica, e depois para um jazigo vizinho, ao nível do chão, modestamente decorado com pequenas plantas.

“O cemitério é a representação da cidade: dos seus poderes, da sua cultura, da sua sociedade e da sua economia”, continua. “É a memória viva. Lembro sempre a meus alunos: quem constrói o túmulo não é o morto, mas os vivos. Eles reproduzem na obra tumular o que o morto tinha. É a única forma, em muitos casos, da manutenção da memória desse sujeito”, avalia.

Sindey Silva

 

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