Cemitério São Vicente em Caicó, também faz parte da pesquisa
“Este é o meu parque de diversões”, diz Lourival Andrade Júnior
enquanto circula com familiaridade entre os túmulos do Cemitério São
Vicente de Paula, em Caicó. Professor de História do Centro de Ensino
Superior do Seridó (CERES) – unidade da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN).
Lourival encontra com facilidade as sepulturas
do local, sobre as quais é capaz de comentar desde os aspectos
artísticos do jazigo até as histórias familiares das pessoas enterradas
ali. “Este espaço é um documento vivo.
Aqui eu me sinto bem. Não digo
religiosamente, mas do ponto de vista da pesquisa. Me sinto melhor aqui
do que em um arquivo, com aquele cheiro que me dá até rinite”.
O docente lidera no CERES o estudo Cemitérios do Seridó, que pretende
reconhecer a memória das cidades da região pelas características de
seus cemitérios. “Fazemos uma análise social, uma leitura. Procuramos a
sensibilidade do lugar”, explica.
Lourival acredita que as sepulturas eternizam as pessoas, preservam
memórias que uma pesquisa não encontraria em fontes consideradas
convencionais pelos historiadores, como os processos criminais ou os
atestados de óbito.
O professor já esteve em todos os cemitérios da
região, composta por 23 municípios, e guarda um banco de dados com mais
de 6 mil fotos de tumbas. O que mais lhe chama atenção, é que, em todos
os locais visitados, é possível perceber claramente as diferenças
sociais.
“O Seridó demarca muito bem o espaço social de poder dentro do
cemitério. Quem manda e quem não manda, tudo está aqui. As famílias mais
poderosas têm túmulos mais suntuosos, as menos abastadas têm covas
rasas, simples, mais baratas”, analisa. “As pessoas dizem que o bom da
morte é que ela iguala todos.
Como assim? Este aqui é igual àquele lá?”,
provoca, apontando para uma sepulcro azul, alto e imponente, em formato
de torre gótica, e depois para um jazigo vizinho, ao nível do chão,
modestamente decorado com pequenas plantas.
“O cemitério é a representação da cidade: dos seus poderes, da sua
cultura, da sua sociedade e da sua economia”, continua. “É a memória
viva. Lembro sempre a meus alunos: quem constrói o túmulo não é o morto,
mas os vivos. Eles reproduzem na obra tumular o que o morto tinha. É a
única forma, em muitos casos, da manutenção da memória desse sujeito”,
avalia.
Sindey Silva

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