Coincidência
 ou não? Há exatamente 100 anos atrás acontecia uma das maiores secas já
 registrada na história do Brasil. A seca de 1915 foi uma das mais 
terríveis que já se espalhou pela região nordestina. Foi a inclemência 
da devastação de tudo acima e abaixo da terra, do desespero do homem e 
da dizimação dos rebanhos, da fome e da sede alastradas em progressão 
alarmante, das muitas e muitas levas de retirantes abandonando seus 
lugarejos já quase mortos como o próprio homem.
Foi nessa estiagem que, para impedir que
 os retirantes se dirigissem à capital, o governo cearense criou campos 
de concentração nos arredores das grandes cidades, nos quais recolhia os
 flagelados. A varíola fez centenas de mortos no Campo do Alagadiço, 
próximo a Fortaleza, onde se espremiam mais de 8 mil pessoas; a falta de
 condições sanitárias e de comida completou o trágico quadro. 
O 
sofrimento das famílias durante essa estiagem é retratado por Rachel de 
Queiroz no seu romance “O quinze”, um drama instigante impondo situações
 dolorosas em meio à desolação provocada pela seca.
Nos dias atuais, a catastrófica previsão
 estava novamente prestes a acontecer no semi-árido. “De cem em cem anos
 virá um sol diferente dos outros, mais quente, mais abrasador e mais 
duradouro, e tudo o que estiver abaixo dele, seja homem, seja animal ou 
planta, se curvará em piedade e aflição, pois não haverá sequer uma gota
 d’água caindo dos céus para aliviar o sofrimento da estiagem, e tudo 
será seco e feio”, eis a profecia.
Em 2014 começaram a aparecer os 
primeiros sinais. Nesse ano, a chuva tão esperada no dia 19 de março não
 veio, muito menos avistava-se qualquer aparência de nuvens carregadas 
no horizonte.O sertanejo acredita que se chover nesse dia – dia de São 
José – é sinal de que haverá um bom inverno. Com os dias passando e as 
chuvas sumindo, o matuto começou logo a desconfiar de que o pior 
certamente viria.
Dito e certo, pois quando entrou o ano 
de 2015 a seca já começou a mostrar sua feição assustadora. A cada dia 
que passava as esperanças iam esvaindo-se, os tanques e cacimbas 
começaram a enlamear, os pastos ficaram cinzentos, os animais emagreciam
 e deixavam suas carcaças pelos barrancos, veio a fome, a sede, o medo. 
Era a seca em toda sua plenitude. João e Maria venderam tudo o que 
restava e foram embora desnorteados; encontraram Belarmino caído, morto,
 por cima da carcaça da única vaquinha que tinha; de tanto ouvir seus 
filhos reclamar que tinham fome, Pedro enlouqueceu e invadiu uma 
prefeitura, sendo preso e judiado; as ruas das cidades encheram-se de 
pedintes esfarrapados; ninguém mais falava de rico e de pobre. Era a 
socialização da miséria.
Fonte: Erivanaldo Soares


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