‘Mais uma vitória’, diz Netinho após primeiro show de retorno aos palcos

 

Um cantor que levantava multidões nos trios elétricos agora conta com o carinho dos fãs para se reerguer. Depois de uma longa batalha pela vida, Netinho começa a reencontrar sua voz e seu público e o Fantástico acompanhou bem de perto o primeiro passo dessa nova fase. 

Madrugada de sexta (28) para sábado (29), em Recife, Pernambuco, o Fantástico acompanhou de perto o retorno aos palcos de um querido ídolo do axé.

O cantor baiano Netinho emplacou um sucesso atrás do outro desde que começou na Banda Beijo, nos anos 80. Mais tarde, na carreira solo, cantou um dos maiores sucessos dos anos 90. Hoje, aos 49 anos, Netinho está mais magro, com a voz mais fraca. Mas pronto para recomeçar depois de dois anos 

enfrentando problemas sérios de saúde.

“Não tenho muita coisa que eu tinha. Meus movimentos como eram antes, minha força, minha voz, tudo. Mas a riqueza do que eu estou vivendo hoje é muito maior do que tudo isso”, conta Netinho.

Fantástico: Como você acha que você conseguiu superar tudo isso que você passou?
 

Netinho: Amor, energia positiva, desejo de ficar bom. Durante o período de hospital, eu vi muitos entrarem, junto comigo e depois de mim no hospital, e vi pouquíssimos saírem com vida. Então, eu me sinto um homem vitorioso”.

O primeiro sinal de que algo estava errado apareceu em abril de 2013. Netinho decidiu ir ao hospital por causa de uma dor forte na coxa direita. Só que os exames revelaram um diagnóstico alarmante.

“Havia uma infecção gravíssima no meu fígado”, lembra Netinho.

Fantástico: Essa infecção no fígado foi por causa do uso de anabolizante?
 

Netinho: Foi. Eu usei anabolizantes em 2010. Aquilo causou uma infecção silenciosa no meu fígado.

O quadro do Netinho piorou quando a infecção se espalhou. Foram sete meses internado. Nessa mesma época, ele sofreu três AVCs, Acidente Vascular Cerebral, num prazo de duas semanas e passou por duas cirurgias na cabeça.

“Eu virei uma coisa na cama do hospital. Eu fui ao fim do túnel. Fui e voltei, várias vezes”, conta Netinho.

Depois que teve alta, o cantor se apresentou no Rio de Janeiro, em abril do ano passado. “Foi um show lindo, magnífico, mas não pude continuar porque tava muito fraquinho. Muito debilitado”, conta.

Netinho começou a sentir uma tontura incontrolável. Ele mal conseguia se movimentar.

“Eu me desequilibrava e caia. Vomitava. Ficava muito tonto. Então eu pensei, essa tontura vai ser para o resto da minha vida, então não tem sentido. Viver deitado numa cama não tinha sentido mais”, lembra. 

Fantástico: Mas era vontade de morrer mesmo?
 

Netinho: De morrer mesmo. Parei de comer. Três dias.

A depressão e a tontura levaram Netinho mais uma vez para o hospital. Ele fez uma nova cirurgia no cérebro e passou mais seis meses internado.

“Depois dessa nova internação, eu entendi que a vida deve ser preservada de qualquer forma. É um presente único que a gente tem, não pode jogar fora. Desperdiçar”, conta.

Aos poucos, o Netinho vai voltando a viver como antes. “Já corro, esse trote de leve na areia, bem pouquinho. No início, eu nem poderia virar a cabeça, como eu estou fazendo agora. Porque ficava tonto, vomitava, botava tudo para fora”, diz.

Os exercícios não são só para o corpo.

“Com ele o trabalho é esse, de resgatar essa energia pela voz. Trabalhar a musculatura para ele ganhar força de novo, como ele tinha antigamente”, destaca o fonoaudiólogo Ivan Alexandre Filho.

“Eu perdi a voz toda, 100% perdi a voz. Não falava nada quando eu acordei no hospital. Teve a intubação, que não foi uma só, foram várias. Teve também os AVCs, que relaxaram a língua para um lado, agora já está normal. Agora com os exercícios, com as aulas, estou recuperando tudo”, diz o cantor.

Netinho coloca tudo em prática nos ensaios com a banda. “Poder voltar de novo, pegar nisso tudo de novo, vai ser uma emoção fantástica, vai ser incrível”, diz o cantor.

O Fantástico acompanhou o último ensaio do Netinho antes do show, antes de pisar no palco depois de tanto tempo longe dele.

O Netinho está recomeçando devagar. Cantou cinco músicas. Nas outras, o show contou com a participação de um outro cantor.

“Me segurei para não chorar. Consegui! Uma vitória, mais uma vitória”, diz o cantor.